O tratamento com iodo radioativo é uma terapia frequentemente utilizada em casos de doenças da tiroide, especialmente após a remoção cirúrgica da glândula em doentes com cancro da tiroide. No entanto, muitos pacientes ficam preocupados com os possíveis efeitos secundários, sendo a queda de cabelo uma das questões mais comuns. Será que o iodo radioativo provoca realmente a perda de cabelo? Este artigo pretende abordar detalhadamente esta dúvida, explicando como funciona o tratamento com iodo radioativo, os seus possíveis efeitos colaterais a curto e longo prazo, e de que forma pode influenciar a saúde capilar.
Como funciona o tratamento com iodo radioativo e os seus efeitos no organismo
O tratamento com iodo radioativo, também conhecido como terapia com I-131, é uma forma de tratamento nuclear amplamente utilizada em casos de doenças da tiroide, como hipertiroidismo e cancro da tiroide diferenciado. Após a remoção cirúrgica da tiroide, esta terapia ajuda a eliminar qualquer tecido tiroideano remanescente, bem como possíveis células cancerígenas que possam ter-se espalhado.
O iodo radioativo é administrado por via oral, geralmente em forma de cápsula ou, em alguns casos, em solução líquida. O princípio por detrás deste tratamento baseia-se no facto de que as células da tiroide absorvem naturalmente o iodo. Como tal, ao ingerir iodo radioativo, estas células absorvem a substância, que emite radiação diretamente no seu interior, destruindo-as.
Embora o tratamento seja eficaz, a radiação libertada pode também afetar outras partes do corpo, ainda que em menor grau. Por isso, são comuns alguns efeitos secundários após a administração do I-131, como:
- Náuseas e vómitos nos primeiros dias;
- Secura bucal e alterações do paladar;
- Fadiga prolongada;
- Inflamação nas glândulas salivares;
- Redução temporária da produção de hormonas tiroideias.
Quanto à questão da queda de cabelo, é importante perceber o mecanismo de ação desta terapia e como o iodo radioativo pode, de forma indireta, ter impacto no ciclo de crescimento capilar.
O iodo radioativo provoca queda de cabelo? Contexto clínico e fatores de risco
A queda de cabelo, conhecida como eflúvio telógeno, pode acontecer como efeito secundário temporário após um tratamento com iodo radioativo, mas não é um sintoma universal nem frequente. A sua ocorrência está geralmente mais associada a alterações hormonais severas que ocorrem durante o período de preparação para a terapia, do que ao impacto direto da radiação sobre o couro cabeludo.
Para que o iodo radioativo atue de forma eficaz sobre os resíduos da tiroide, é muitas vezes necessário suspender a terapia com hormona tiroideia durante algumas semanas antes da administração. Isso provoca um estado de hipotiroidismo temporário, que pode ter vários efeitos no organismo — entre eles, a queda de cabelo.
O hipotiroidismo influencia o ciclo de vida dos folículos capilares, tornando o cabelo mais fino, sem brilho e sujeito à queda. Em muitos casos, a queda de cabelo começa algumas semanas após o início do hipotiroidismo e tende a parar quando os níveis hormonais voltam ao normal. Este tipo de perda capilar é geralmente:
- Temporário: o cabelo tende a voltar a crescer poucos meses após a estabilização hormonal;
- Difuso: afeta todo o couro cabeludo de forma uniforme, sem áreas de calvície;
- Não cicatricial: os folículos não são destruídos, pelo que há recuperação capilar.
Outro fator que deve ser considerado são os níveis de stress e os efeitos psicológicos relacionados com o diagnóstico de cancro da tiroide e o próprio tratamento. O stress psicológico intenso pode contribuir ainda mais para desequilíbrios hormonais e potenciar a queda de cabelo.
Por outro lado, quando são administradas doses extremamente elevadas de iodo radioativo — por exemplo, em casos mais graves ou recorrentes de cancro da tiroide — o impacto da radiação pode ser mais abrangente e afetar outras células em crescimento rápido no corpo, incluindo as do folículo capilar. Nestes casos, a queda de cabelo pode ser mais evidente, mas continua a ser um sintoma consideravelmente raro.
É fundamental destacar que o tratamento com iodo radioativo não se compara à quimioterapia tradicional, onde a perda de cabelo é muito mais comum devido à ação sistémica dos fármacos sobre todas as células de renovação rápida, como as dos folículos pilosos. Já a radiação administrada via iodo tende a ser localizada, o que minimiza consideravelmente estes efeitos.
Assim, embora alguns pacientes possam experienciar a perda de cabelo após a terapia com iodo radioativo, esta não é uma consequência inevitável nem permanente. O acompanhamento endocrinológico é essencial para repor os níveis hormonais rapidamente e prevenir alterações prolongadas que possam afetar o cabelo e outros aspetos da saúde geral.
Algumas estratégias que podem auxiliar na prevenção ou recuperação da queda de cabelo incluem:
- Reposição adequada de hormona tiroideia logo após o tratamento;
- Manter uma alimentação rica em vitaminas do complexo B, ferro, zinco e proteínas;
- Evitar produtos agressivos para o couro cabeludo;
- Reduzir níveis de stress com técnicas de relaxamento ou apoio psicológico;
- Consultar um dermatologista em casos de queda acentuada ou persistente.
Com uma abordagem médica adequada e personalizada, é possível mitigar os potenciais efeitos secundários do tratamento com iodo radioativo sobre a saúde capilar e garantir uma boa qualidade de vida durante o processo de recuperação.
Em suma, o tratamento com iodo radioativo pode provocar queda de cabelo em alguns indivíduos, mas esta é geralmente transitória, leve e mais associada ao hipotiroidismo temporário do que ao efeito direto da radiação. A maioria dos pacientes não apresenta perda capilar significativa e, sempre que ocorre, há uma boa taxa de recuperação capilar após a reposição hormonal. Se tiver dúvidas sobre os efeitos do tratamento, fale com o seu médico endocrinologista para obter orientações específicas ao seu caso e garantir o melhor acompanhamento possível.