A varicela, conhecida também como catapora, é uma doença infeciosa comum, sobretudo durante a infância. Causada pelo vírus varicela-zoster, caracteriza-se por uma erupção cutânea com pequenas bolhas, acompanhada de febre, fadiga e mal-estar geral. Embora, na maioria dos casos, se trate de uma condição benigna, o seu contágio é extremamente fácil, e as complicações podem surgir, sobretudo em adultos, bebés e pessoas imunodeprimidas. Neste artigo, vamos explorar em detalhe o que fazer em caso de varicela, como tratar os sintomas em casa, quando recorrer ao médico e de que forma prevenir o contágio.
Como identificar e lidar com os sintomas da varicela
A varicela tem um ciclo de evolução bem definido e os sintomas manifestam-se geralmente entre 10 a 21 dias após o contacto com o vírus. O primeiro sinal tende a ser febre ligeira, dor de cabeça e cansaço, seguidos de uma erupção cutânea característica. Esta erupção começa como pequenas manchas vermelhas que rapidamente se transformam em bolhas com líquido e, posteriormente, em crostas que caem ao longo de 1 a 2 semanas.
É essencial saber o que fazer durante cada fase da doença para aliviar os sintomas e evitar complicações. Eis algumas recomendações práticas:
- Evitar coçar as lesões: embora seja difícil devido à comichão intensa, coçar pode levar a infeções secundárias e deixar cicatrizes permanentes. Cortar as unhas curtas e usar luvas durante a noite pode ajudar, especialmente nas crianças.
- Usar roupas confortáveis e frescas: tecidos leves e que não irritem a pele são ideais para não agravar a comichão.
- Tomar banhos com produtos calmantes: banhos de aveia ou com bicarbonato de sódio podem aliviar o desconforto cutâneo.
- Aplicar loções calmantes: loções à base de calamina ajudam a controlar a comichão. No entanto, deve-se evitar produtos com álcool ou perfumes que irritem a pele.
- Manter-se hidratado(a): beber bastante água ajuda o corpo a combater a infeção e reduz o risco de desidratação, que pode ocorrer, por exemplo, se houver febre alta.
- Recolher-se em casa: uma vez que a varicela é muito contagiosa, a pessoa afetada deve evitar o contacto com outras durante o período em que as bolhas estiverem ativas, ou seja, até que todas estejam em crosta.
Além disso, é importante estar atento(a) a sinais de alarme como febre persistente por mais de quatro dias, tosse intensa, vómitos, dificuldade respiratória ou bolhas infectadas (com pus ou muito vermelhas), que podem indicar complicações como pneumonia ou infeções bacterianas da pele. Nesses casos, deve-se procurar assistência médica imediata.
Em crianças saudáveis, geralmente não é necessário nenhum medicamento antiviral – o tratamento é sintomático e feito em casa. No entanto, em adolescentes, adultos ou pessoas com doenças crónicas ou imunidade comprometida, o médico pode prescrever antivirais como o aciclovir, que diminuem a duração e severidade da doença, desde que administrados nas primeiras 24-48 horas após o início da erupção.
Prevenção da varicela e gestão do contágio
Prevenir o contágio da varicela é particularmente importante em ambientes como escolas, infantários ou instituições de saúde. O vírus varicela-zoster transmite-se por gotículas respiratórias (tosse, espirros) e pelo contacto direto com o líquido das bolhas infetadas.
Para reduzir o risco de contágio e proteger pessoas mais vulneráveis, considere as seguintes medidas preventivas:
- Isolamento da pessoa infetada: manter a pessoa com varicela em casa e afastada de outros, especialmente grávidas, recém-nascidos ou pessoas com sistema imunitário debilitado.
- Higiene cuidadosa: lavar as mãos com frequência, especialmente após tocar lesões ou superfícies possivelmente contaminadas; evitar partilhar objetos pessoais como toalhas ou copos.
- Ventilação do espaço: manter a casa ventilada e limpa, ajudando a reduzir a concentração de partículas virais no ar.
- Vacinação: a vacinação contra a varicela faz parte de muitos programas de imunização em vários países, embora em Portugal não esteja incluída no Programa Nacional de Vacinação para todos os grupos. A vacina é altamente eficaz na prevenção da doença ou na redução da sua gravidade.
A vacina contra a varicela é composta por vírus vivos atenuados e pode ser administrada a partir dos 12 meses de idade. Embora um pequeno número de indivíduos vacinados possa ainda desenvolver a doença, os sintomas são geralmente muito mais leves e de curta duração. É também recomendada para profissionais de saúde, professores, e outros adultos em contacto frequente com crianças.
O conhecimento sobre a imunidade pós-varicela também é relevante: uma vez que a maioria das pessoas desenvolve imunidade vitalícia após a infeção, é raro ter-se varicela mais do que uma vez. No entanto, o vírus pode permanecer latente no organismo e ser reativado anos mais tarde sob a forma de zona (ou herpes zoster), particularmente em adultos mais velhos ou imunocomprometidos.
Se alguém foi exposto à varicela mas ainda não apresenta sintomas (por exemplo, irmãos ou colegas de turma), não há tratamento preventivo eficaz exceto em casos de risco elevado, em que o médico pode considerar a administração da vacina ou imunoglobulina específica, desde que realizada nas primeiras 72 a 96 horas após a exposição.
A comunicação com instituições escolares, de cuidados infantis ou laborais é também fundamental quando há um caso confirmado, de forma a prevenir surtos e proteger os contactos de risco.
Importa também notar que as mulheres grávidas que nunca tiveram varicela ou não foram vacinadas devem evitar o contacto com pessoas infetadas, pois a infeção durante a gravidez pode ter consequências graves para o feto, incluindo malformações congénitas.
Por fim, embora a varicela seja muitas vezes considerada uma “doença benigna da infância”, não deve ser desvalorizada. O seu potencial de complicações existe e, portanto, uma atitude informada, prudente e preventiva faz toda a diferença.
Em resumo, a varicela é uma doença que, apesar de comum, exige cuidados específicos para garantir uma recuperação tranquila e prevenir complicações. O reconhecimento precoce dos sintomas, o alívio adequado da comichão, a manutenção do repouso e a hidratação são fundamentais. É igualmente essencial evitar o contacto com outras pessoas durante o período de contágio. A vacinação, como forma de prevenção, desempenha um papel fundamental, especialmente em grupos de risco. Ao seguir estas orientações, é possível gerir eficazmente a doença e minimizar os seus impactos na saúde e bem-estar do paciente e da comunidade.