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Psicomotricidade é uma área do conhecimento que integra corpo e mente, estabelecendo uma ligação essencial entre os aspetos motores, emocionais e cognitivos do ser humano. Este campo revela-se determinante no desenvolvimento infantil, na reabilitação de dificuldades motoras ou cognitivas, e até na promoção do bem-estar geral. Ao longo deste artigo, vamos explorar o que é a psicomotricidade, quais os seus principais pilares e como é aplicada em diversos contextos, nomeadamente na educação, na saúde e no acompanhamento terapêutico. Descubra como a psicomotricidade pode transformar positivamente o desenvolvimento humano desde a infância até à idade adulta.

O que é a Psicomotricidade e qual a sua importância

A psicomotricidade é uma disciplina que compreende o ser humano num todo, considerando que o movimento corporal não é apenas uma ação física, mas também uma expressão de emoções, pensamentos e vivências internas. Nasce da interação entre várias áreas do saber, como a psicologia, a neurologia, a pedagogia e a terapia ocupacional, sendo por isso uma ciência interdisciplinar por excelência.

Este campo foca-se na relação entre o corpo e a mente, distinguindo-se da motricidade pura porque considera que o movimento corporal está intimamente ligado ao desenvolvimento emocional e cognitivo. Assim, quando uma criança corre, salta, desenha ou se movimenta, ela está também a descobrir o mundo, a expressar sentimentos, a construir relações e a desenvolver competências cognitivas.

A importância da psicomotricidade torna-se evidente desde os primeiros meses de vida. O movimento espontâneo do bebé, a sua postura, a forma como sustenta a cabeça ou explora objetos são manifestações psicomotoras que indicam o seu desenvolvimento. Ao longo do crescimento, a psicomotricidade desempenha um papel fundamental no processo de aprendizagem e socialização, sendo inclusive essencial em contextos educativos.

Na escola, por exemplo, muitas dificuldades de aprendizagem como a dislexia, a disgrafia ou a falta de atenção podem ter origens psicomotoras. Uma má coordenação motora fina pode dificultar a escrita; uma noção corporal deficitária pode comprometer a orientação espacial e dificuldades de equilíbrio podem traduzir-se em problemas de concentração e postura. Neste sentido, a psicomotricidade permite identificar e intervir precocemente nestas dificuldades.

Além disso, a intervenção psicomotora é muitas vezes utilizada em crianças com perturbações do desenvolvimento, como perturbação do espectro do autismo (PEA), défice de atenção com ou sem hiperatividade (DDAH) ou paralisia cerebral. Nesses casos, o apoio psicomotor pode ajudar a otimizar o potencial do desenvolvimento global da criança, promovendo a autonomia, a autoestima e o bem-estar emocional.

A psicomotricidade não se limita apenas à infância. Em adultos, é frequentemente aplicada em contextos de reabilitação neurológica, na recuperação de acidentes vasculares cerebrais (AVC), lesões cerebrais traumáticas ou doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer. Também pode ser usada como estratégia preventiva em idosos, mantendo a mobilidade, a autoestima e a autonomia.

Áreas de intervenção e estratégias da psicomotricidade

As sessões de psicomotricidade podem assumir diferentes formas consoante os objetivos, a faixa etária e as necessidades individuais da pessoa. Assim, um dos principais pontos fortes desta área é a sua capacidade de adaptação e personalização da intervenção.

Podemos identificar três grandes domínios de intervenção psicomotora:

  • Psicomotricidade educativa: Aplicada frequentemente em jardins de infância e escolas, foca-se na promoção global do desenvolvimento da criança através do movimento. Trabalha competências como a motricidade grossa e fina, o esquema corporal, lateralidade, equilíbrio, orientação espacial e temporal, e coordenação óculo-manual. Procura também estimular a socialização e a autoestima.
  • Psicomotricidade reeducativa: Direcionada para crianças e jovens com dificuldades específicas do desenvolvimento psicomotor ou da aprendizagem. Aqui, o objetivo é reorganizar e consolidar aspetos do desenvolvimento que não se tenham estabelecido adequadamente, como défices de coordenação, de atenção ou de planeamento motor.
  • Psicomotricidade terapêutica: Aplicada em contextos clínicos ou em casos de patologias neurológicas, perturbações do desenvolvimento ou alterações emocionais profundas. O psicomotricista utiliza o corpo, o jogo e o movimento como ferramentas terapêuticas para ajudar a pessoa a expressar-se, reorganizar-se e recuperar funções comprometidas.

Durante a intervenção, o profissional recorre a várias técnicas e atividades, entre as quais:

  • Jogos simbólicos e expressivos: fundamental para permitir que a criança exprima os seus conflitos internos e emoções através do faz-de-conta e da dramatização.
  • Atividades de relaxamento e respiração: promovem a consciência corporal e ajudam a gerir estados de ansiedade, tensão ou agitação.
  • Exercícios motoros estruturados: têm como objetivo o reforço da motricidade, o controlo postural, a lateralidade, a orientação no espaço e tempo e o desenvolvimento da coordenação geral e segmentar.
  • Trabalho com materiais variados: bolas, cordas, arcos, tecidos, espelhos, caixas sensoriais, entre outros, que estimulam diferentes entradas sensoriais e permitem a exploração e experimentação motora.

Um dos principais princípios da psicomotricidade é o respeito pelo ritmo e singularidade de cada indivíduo. O terapeuta não impõe atividades; antes, propõe e observa, permitindo que o movimento expressivo da pessoa revele as suas necessidades e potencialidades. Esta abordagem favorece uma relação terapêutica profunda e baseada na confiança mútua, o que é essencial para o sucesso da intervenção.

De salientar ainda que a psicomotricidade valoriza a relação triangular entre o corpo, o espaço e o outro. Isto significa que, ao mesmo tempo que a pessoa toma consciência de si e do seu corpo, também constrói a sua perceção do espaço que a rodeia e da forma como se relaciona com os outros, fortalecendo assim a sua identidade e capacidade de inserção social.

Progressivamente, esta abordagem tem ganho reconhecimento não só nos meios clínicos e educativos, mas também em políticas públicas de saúde e educação em Portugal. O psicomotricista é hoje um profissional essencial nas equipas multidisciplinares, trabalhando com médicos, psicólogos, pedagogos e terapeutas da fala para promover uma intervenção holística e integrada.

Investir em psicomotricidade é, por isso, investir no desenvolvimento global do ser humano. Trata-se de uma ferramenta poderosa para fomentar o equilíbrio entre corpo e mente, prevenir dificuldades, promover aprendizagens significativas e potenciar a autonomia e qualidade de vida em qualquer fase da existência.

Em síntese, a psicomotricidade é um campo do saber e da intervenção cada vez mais relevante, tanto na infância como na vida adulta. Ao integrar corpo, mente e emoção, permite compreender o ser humano na sua globalidade e oferece caminhos concretos para apoiar o seu crescimento, aprendizagem e bem-estar. Quer seja aplicada em contextos educativos, clínicos ou sociais, esta abordagem tem demonstrado resultados muito positivos no desenvolvimento físico, emocional e cognitivo das pessoas. É urgente que pais, educadores, terapeutas e profissionais de saúde reconheçam o seu valor e façam da psicomotricidade uma aliada estratégica no percurso de vida de cada indivíduo.

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